O Pôr do Sol
Fomos ver o pôr do sol. Mesmo onde ele se põe. Na extremidade oeste da ilha. Eu e o Jorge. Num carro velho a cair aos pedaços. Quem nos visse e só reparasse no Renault 5GTR pensaria que eramos assaltantes em missão de reconhecimento.
Creio que foi isso que me disseram os olhos do dono do famoso restaurante, O TOSCO, onde encomendei o prato que deu nome e gente à casa. Bacalhau acompanhado de batatas com casca e salada.
Era preciso fazer reserva, disse-me ele, a avaliar se a minha carteira podia pagar. Fiz a encomenda sublinhando que lá estariamos às 19:30 e que, entretanto, iriamos ver o pôr do sol da Ponta do Pargo e que talvez se fosse tão belo quanto o pintavam até nos atiravamos pela encosta quais Ícaros. Reserve então o Bacalhau. Emanuel Bento. E metemo-nos na estrada outra vez.
As ilhas são microcosmos espantosos. Então não é que o Jorge, retornado, e já com 30 anos de Madeira nunca tinha passado além de 30km fora do Funchal.E foi aos seus 42 que o levei a ver as falésias onde acaba a ilha e começam os sonhos dos homens.
A Casa de Chá O FIO estava deserta. Bebemos chá de Camomila, faz bem à Saúde, justiticou-se assim a escolha. Pedi um mapa ao balcão pra lhe mostrar onde nos encontravamos. Fomos a seguir ao miradouro e as escarpas são mesmo sublimes. Cortadas a pique, imensas e assustadoras. O abismo a desafiar-nos, a chamar, a olhar sedutoramente.
Em baixo, junto ao mar, uma velha casa em ruinas, com duas palmeiras a enfeita-la. Antes as pessoas desciam a pé para cultivar aqueles terrenos, expliquei-lhe, e havia um fio com roldanas com que traziam o que a terra dava e o mar não levava.
Há dois anos que o Jorge não fuma, ele que tanto fumegava. Acendi um ou dois cigarros e deixei os olhos irem longe até ao último clarão de sol. Alaranjado e entontecer todos os sentidos.
Voltámos ao carro. Não haviamos almoçado e o estómago clamava pelo Bacalhau. Os 60 minutos que faltavam fizeram-se rápido. Pelo caminho ainda o ouvi dizer quanto queria comprar um pequeno terreno e uma velha casa para reconstruir com as suas próprias mãos. O Jorge tem toda a inteligência nas mãos. É capaz de desmontar e montar qualquer coisa. Por vezes desconfio que ele se desmonta e que passa dias assim desmontado, a hibernar, até voltar a fazer a montagem. Só pode. De que outra maneira explicar que raramente o veja, ainda que ele viva a menos de 50 metros da minha casa.
O homem perguntou-nos onde queriamos comer. Dentro, dissemos, está mais quente. Só havia uma única mesa ocupada. Uns engenheiros dumas firmas de construção civil em conversa nitidamente conspiratória. Quando entramos e nos sentamos a conversa terminou. Um deles, que me conhecia por questões profissionais, disse: O DIÁRIO está aqui, boca calada. Retorqui que estava de férias e que podiam falar à vontade. E foi engraçado ver o que já adivinharam. Mal o dono do restaurante ouviu dizer que era jornalista do mais importante jornal da ilha foi todo mimoso e atencioso.Também pudera, custou 80 euros o jantar, com vinho incluído, era o que faltava o gajo não ser delicado, fossemos nós pretos...
EMANUEL BENTO
NB: Como vêm, não havia hoje grande imaginação, paciência, é o que há!
Creio que foi isso que me disseram os olhos do dono do famoso restaurante, O TOSCO, onde encomendei o prato que deu nome e gente à casa. Bacalhau acompanhado de batatas com casca e salada.
Era preciso fazer reserva, disse-me ele, a avaliar se a minha carteira podia pagar. Fiz a encomenda sublinhando que lá estariamos às 19:30 e que, entretanto, iriamos ver o pôr do sol da Ponta do Pargo e que talvez se fosse tão belo quanto o pintavam até nos atiravamos pela encosta quais Ícaros. Reserve então o Bacalhau. Emanuel Bento. E metemo-nos na estrada outra vez.
As ilhas são microcosmos espantosos. Então não é que o Jorge, retornado, e já com 30 anos de Madeira nunca tinha passado além de 30km fora do Funchal.E foi aos seus 42 que o levei a ver as falésias onde acaba a ilha e começam os sonhos dos homens.
A Casa de Chá O FIO estava deserta. Bebemos chá de Camomila, faz bem à Saúde, justiticou-se assim a escolha. Pedi um mapa ao balcão pra lhe mostrar onde nos encontravamos. Fomos a seguir ao miradouro e as escarpas são mesmo sublimes. Cortadas a pique, imensas e assustadoras. O abismo a desafiar-nos, a chamar, a olhar sedutoramente.
Em baixo, junto ao mar, uma velha casa em ruinas, com duas palmeiras a enfeita-la. Antes as pessoas desciam a pé para cultivar aqueles terrenos, expliquei-lhe, e havia um fio com roldanas com que traziam o que a terra dava e o mar não levava.
Há dois anos que o Jorge não fuma, ele que tanto fumegava. Acendi um ou dois cigarros e deixei os olhos irem longe até ao último clarão de sol. Alaranjado e entontecer todos os sentidos.
Voltámos ao carro. Não haviamos almoçado e o estómago clamava pelo Bacalhau. Os 60 minutos que faltavam fizeram-se rápido. Pelo caminho ainda o ouvi dizer quanto queria comprar um pequeno terreno e uma velha casa para reconstruir com as suas próprias mãos. O Jorge tem toda a inteligência nas mãos. É capaz de desmontar e montar qualquer coisa. Por vezes desconfio que ele se desmonta e que passa dias assim desmontado, a hibernar, até voltar a fazer a montagem. Só pode. De que outra maneira explicar que raramente o veja, ainda que ele viva a menos de 50 metros da minha casa.
O homem perguntou-nos onde queriamos comer. Dentro, dissemos, está mais quente. Só havia uma única mesa ocupada. Uns engenheiros dumas firmas de construção civil em conversa nitidamente conspiratória. Quando entramos e nos sentamos a conversa terminou. Um deles, que me conhecia por questões profissionais, disse: O DIÁRIO está aqui, boca calada. Retorqui que estava de férias e que podiam falar à vontade. E foi engraçado ver o que já adivinharam. Mal o dono do restaurante ouviu dizer que era jornalista do mais importante jornal da ilha foi todo mimoso e atencioso.Também pudera, custou 80 euros o jantar, com vinho incluído, era o que faltava o gajo não ser delicado, fossemos nós pretos...
EMANUEL BENTO
NB: Como vêm, não havia hoje grande imaginação, paciência, é o que há!
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